encontro marcado com Leminski no “Museu do Olho”

poeta. tradutor. ensaísta. publicitário. professor. compositor. e muito mais. um homem versátil, multifacetado, múltiplo. esta é apenas uma entre milhares de descrições possíveis para o gênio Paulo Leminski (1944-1989).

reconhecido, com toda a justiça, como um dos mais importantes poetas brasileiros, Leminski espera por você no Museu Oscar Niemeyer (MON), o “Museu do Olho”. aberta no dia 27 de outubro, a exposição “Múltiplo Leminski” permanece no MON até 31 de março de 2013. como sugere o próprio nome, a intenção é retratar toda a versatilidade e pluralidade intelectual de Leminski, homem-artista que transitou e rompeu fronteiras entre diversas linguagens e formas de expressão.

o espaço da exposição conta com nichos ambientados com as áreas nas quais Leminski atuava, como música, poesia, tradução, cinema, grafite e quadrinhos. a mostra também inclui shows, filmes, debates e oficinas.

a curadoria é de Alice Ruiz, poetisa e ex-mulher de Paulo Leminski. Aurea Leminski e Estrela Leminski, filhas do poeta, são as assistentes de curadoria. o design e a ambientação ficam sob a responsabilidade de Miguel Paladino.

de acordo com a diretora do Museu Oscar Niemeyer, Estela Sandrini, trata-se da maior exposição já feita no Brasil sobre o poeta curitibano. “esta exposição contempla todas as facetas de Leminski”, resume Alice Ruiz.

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Minifesto

ave a raiva desta noite
a baita lasca fúria abrupta
louca besta vaca solta
ruiva luz que contra o dia
tanto e tarde madrugastes

morra a calma desta tarde
morra em ouro
enfim, mais seda
a morte, essa fraude,
quando próspera

viva e morra sobretudo
este dia, metal vil,
surdo, cego e mudo,
nele tudo foi e, se ser foi tudo,
já nem tudo nem sei
se vai saber a primavera
ou se um dia saberei
que nem eu saber nem ser nem era

Paulo Leminski
(do livro “Distraídos venceremos”)

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Informações:
Local: Museu Oscar Niemeyer – Salão Principal (Olho) – Rua Marechal Hermes, 999. Centro Cívico, Curitiba – PR.
Visitações: terça-feira a sexta-feira, das 10 às 18 horas.
Ingressos: entrada franca no primeiro domingo de cada mês. Nos outros dias, R$ 4 e R$ 2 (meia-entrada).

* Texto: André Pinheiro, com informações de Revista Cult e Museu Oscar Niemeyer.

O que está por trás dos ataques à novela “Salve Jorge”


Átila Nunes e Átila Alexandre Nunes

Alguns setores ditos evangélicos declaram guerra à novela “Salve Jorge”, da TV Globo. Alegam que o enredo é uma adoração ao orixá Ogum, sincretizado com o São Jorge da Igreja Católica.

Uma dessas seitas, autointitulada evangélica, pede que seus seguidores não assistam “Salve Jorge” e sim, assistam à reprise da novela “Rei Davi”, que reestreou no mesmo dia, quando a Globo alcançou 35 pontos no Ibope. A TV Record amargou ínfimos 6 pontos.
Uma dessas seitas acusa São Jorge de ser um “deus pagão travestido de santo” e que “Davi, sim, é um herói verdadeiro”, e que “os fiéis não podem aceitar em suas casas algo que contrarie a sua fé”.

É óbvio que o tema da novela não é São Jorge, e, sim, do mito do guerreiro, o padroeiro da cavalaria representado na novela pelo ator Rodrigo Lombardi, que sendo devoto dele, pede proteção a cada ação.

Então, por que essa reação raivosa de um determinado segmento religioso, já que a novela não é uma homenagem nem a São Jorge, e muito menos a Ogum?

Aparentemente, pode parecer mais uma reação fundamentalista de fanáticos religiosos contra a Umbanda, que tem em Ogum um de seus mais importantes ícones. Mas… se a novela se chamasse “Salve Jerônimo” ou “Salve Sebastião”?

A reação seria idêntica, porque não se trata de religião. Essa é uma interpretação precipitada. É muito menos um ataque fanático-religioso, e muito mais uma preocupação econômico-financeira.

Explico.

Nada dá mais lucro a uma emissora de televisão do que novelas. Nada supera esse segmento. Não há BBBs, humorísticos, reportagens, noticiários, esportes, musicais, nada, absolutamente nada que se compare às novelas em matéria de resultado comercial.

Por isso, as emissoras não economizam dinheiro quando produzem seus capítulos, levando para até para o exterior seus atores e equipes de cinegrafistas.

De acordo com a Forbes, a TV Globo quebrou um recorde comercial com “Avenida Brasil”, conseguindo vender cotas comerciais de 30 segundos por R$ 800 mil para o último capítulo! Imaginem isso: 800 mil reais por 30 segundos!

Ao todo, a TV Globo faturou cerca de R$ 2 bilhões, sendo que a produção de 180 capítulos da trama teria custado algo em torno de R$ 91 milhões. Um lucro de 1 bi e 900 milhões de reais!

Em menor escala, o sucesso da trama infantil “Carrossel”, do SBT, está com uma previsão de lucro de R$ 100 milhões de reais em 12 meses. Depois de “Avenida Brasil” e, agora, de “Salve Jorge”, é a novela de maior audiência da TV brasileira.

E “Carrossel” não fatura apenas em comerciais por causa da alta audiência. Fatura ainda na venda de cerca de cem produtos licenciados da novela, que vão desde bonecos, álbum de figurinhas, fantasia, kit festa de aniversário até aplicativos com jogos educativos para tablets.

O fracasso da audiência da reprise da novela “Rei Davi” se reflete, é claro, no faturamento da emissora, que vem amargando quedas constantes de audiência.

O “Programa do Gugu” vem sendo derrotado pelo SBT aos domingos. As novelas “Rebelde” e “Máscaras” não atingiram a audiência desejada e ficam longe da vice-liderança atualmente conquistada pela emissora de Silvio Santos.

Por isso, é importantíssimo identificar o que se esconde atrás desses ataques à novela da Gloria Peres. Não se trata de uma guerra religiosa. Não! Trata-se de uma guerra comercial, onde o lado que esperneia, amarga prejuízos incalculáveis, obrigando seus proprietários até a venderem seus ativos para segurar a sangria financeira.

Outra guerra religiosa, disfarçada, vem acontecendo nos bastidores das seitas autointituladas evangélicas. Seitas que antes enchiam o Maracanã, arrecadando fortunas de seus fieis, acabaram perdendo seus seguidores para outras seitas formadas por dissidentes que também se autonomearam “bispos”. Parafraseando o ditado popular de que “tem mais cacique do que índio”, hoje tem mais “bispo” do que fiel…

Em outras palavras: perderam audiência e perderam fieis que ajudavam a manter sua estrutura. Estamos falando de muito, muito dinheiro (recordando: um comercial de 30 segundos chegou a ser vendido por 800 mil reais!).

“Salve Jorge” deve repetir o sucesso de “Avenida Brasil”. Por várias razões. Porque a autora é uma craque. Porque a produção é esmeradíssima (as cenas na Turquia são belíssimas). Porque os atores são consagrados e queridos.

E o mais importante: porque o brasileiro ama – e idolatra, sim –, São Jorge, o mesmo São Jorge que é cultuado pelos seus devotos às 6 da manhã, todo dia 23 de abril, e saudado à noite como Ogum nos terreiros de Umbanda.

Salve Jorge! Salve São Jorge! Salve Ogum! Salve a diversidade religiosa brasileira!

* Em tempo: no terceiro dia, após a estréia, ´Salve Jorge´aumentou sua audiência. Marcou 37 pontos segundo o Ibope na Grande São Paulo, dois a mais do que na estreia. Na média de audiência do primeiro capítulo na audiência nacional foi de 41 pontos. No Rio, alcançou 40 pontos.

claustro

insuperáveis
indestrutíveis
intransponíveis
são as paredes deste claustro.

sem luz, sem ar,
sem sons.
somente espectros
e sombras.
palavras desperdiçadas,
gestos sem dons.

ninguém para conversar.
ninguém para dividir.
nada para compartilhar,
além do escuro.

o escuro. o estreito.
o tumular e mais absoluto
silêncio.

insuperáveis
indestrutíveis
intransponíveis
são as paredes deste claustro.

o escuro. o estreito.
interminável; irreversível.
o escuro é a tônica;
o escuro é a túnica,
é a veste deste claustro,
que ostenta a cor da noite
em seu soturno hábito.

Andrepinheiro,2012.

no dia seguinte…

refletir
refazer
relutar
resistir

reinventar…

os sonhos, as cores e os sons;
o belo e impreciso dom de viver;
a luta, a libertação;
a arte do encontro; a (tentativa de) revolução-ruptura
e o vigor da poesia.

reelaborar, reestuturar;
reinventar, reinventar-se: resistir.

sob a intensa luz do sol,
recobrar
todas as forças;
reaver,
reacender a esperança;
reerguer,
fazer tremular, em nossas bandeiras,
em novas bandeiras,
palavras-desordem: luminosa primavera.

existir!

ávida, a vida segue;
a utopia, também.

Andrepinheiro, 08/10/2012.

“Love me do”, 50 anos

há 50 anos, no dia 5 de outubro de 1962, era lançado o primeiro single dos Beatles, “Love me do”. um rock suave, com uma levada bem legal e letra ingênua. o destaque da gravação fica por conta da gaita cromática, tocada por John Lennon.

“Love me do” foi a única canção dos Beatles a ser gravada por três diferentes bateristas. Na coletânea “Anthology”, volume 1, está a versão interpretada por Pete Best, primeiro baterista dos fab four. O baterista freelancer Andy White, contratado pelo produtor George Martin, aparece na gravação que está no álbum “Please, please me”. E, finalmente, o grande Ringo Starr tem sua performance registrada na versão incluída no primeiro volume da compilação de singles do grupo, “Past masters”, lançada em 1988.

no lado B do disquinho foi incluída a balada romântica “P. S.: I love you”. as duas canções são da “desconhecida” dupla Lennon & McCartney.